Os sistemas de abastecimento de água são definidos pela portaria GM/MS 888 de 2021, como ‘instalação composta por um conjunto de obras civis, materiais e equipamentos, desde a zona de captação até as ligações prediais, destinada à produção e ao fornecimento coletivo de água potável, por meio de rede de distribuição’. A figura 1 representa um sistema de abastecimento de água e as unidades que o compõem.
Figura 1: Esquema de um sistema de abastecimento de água
Fonte: HELLER et al. 2010
Assim, temos que o manancial é a fonte de água, a partir de onde é abastecido o sistema; a captação consiste na estrutura responsável pela extração de água do manancial; a adução destina-se a transportar a água, interligando unidades de captação, tratamento, estações elevatórias, preservação e rede de distribuição; as estações elevatórias podem se mostrar necessárias quando a água necessita atingir níveis mais elevados, vencendo desníveis geométricos, então há sistemas que não possuem essa unidade; o tratamento é de implantação sempre necessária, para compatibilizar a qualidade da água bruta com os padrões de potabilidade e proteger a saúde da população consumidora; os reservatórios destinam-se, entre outras funções, a realizar a compensação entre a vazão de produção e as vazões de consumo, variáveis ao longo das horas do dia e ao longo dos dias do ano; a rede de distribuição é composta de tubulações, conexões e peças especiais, localizados nos logradouros públicos, e tem por função distribuir água até residências, estabelecimentos comerciais, indústrias e locais públicos.
As perdas de água nos sistemas de abastecimento correspondem à diferença entre o volume total de água que sai das estações de tratamento e à soma dos volumes medidos nos hidrômetros instalados nos imóveis de destino final. Assim, o nível de perdas de água constitui um índice relevante para medir a eficiência dos prestadores de serviço em atividades como distribuição, planejamento, investimentos e manutenção.
Essas perdas podem ser reais, também chamadas de físicas, que correspondem aos volumes de água que não são consumidos, por serem perdidos através de vazamentos em seu percurso, desde as estações de tratamento de água até os pontos de entrega. Em contrapartida, as perdas podem ser aparentes, conhecidas como não físicas, que correspondem aos volumes de água que são consumidos, mas não são contabilizados pela empresa, devido à falta de hidrômetros ou demais erros de medição, às ligações clandestinas e ao roubo de água.
No Brasil, segundo o estudo realizado, em 2018, pelo Instituto Trata Brasil em parceria com a organização Water.org, 38,45% da água potável e tratada é perdida pelo caminho das estações até a casa dos cidadãos. Esse valor corresponde a mais de 7 mil piscinas olímpicas de água boa perdidas todos os dias e financeiramente, essa perda está acima dos R$11 bilhões.
O levantamento feito pelo instituto ainda identificou as principais causas das perdas de água em nosso país. Na maioria dos casos, elas ocorrem por conta de vazamentos em diferentes pontos do sistema de abastecimento, por causa das ligações clandestinas e irregulares e por falhas de leitura ou leituras imprecisas devido aos hidrômetros estarem muito antigos e necessitarem de substituição.
De acordo com estudo realizado em 2019 pelo instituto, em algumas regiões, o índice de perdas de água supera o índice médio do país.
Figura 2: Perdas de Água de acordo com as regiões do Brasil
No geral, um dos grandes desafios para as concessionárias brasileiras é identificar as ligações clandestinas, principalmente nas construções irregulares. Com isso, as perdas de água representam um dos maiores desafios e dificuldades para a expansão das redes de distribuição de água no Brasil. Isso impacta também na expansão do esgotamento sanitário no país devido às perdas de receita.
O desperdício de água ao longo da distribuição impacta o país em pelo menos três frentes: ambiental, econômica e social. É necessário a retirada de mais água da natureza para cobrir a ineficiência da distribuição, além disso, o custo de transformação da água in natura em água potável, que envolve energia elétrica, produtos químicos e funcionários, por exemplo, não é suprido pela tarifa cobrada do consumidor final e por fim, os problemas sociais, referentes às periferias do país.
Para as concessionárias, a alta taxa de perdas de água resulta numa redução do faturamento. Por conseguinte, isso impede a utilização mais eficiente do capital. Assim, implica-se na diminuição da capacidade de investir e obter financiamentos.
Vale ressaltar que, a abordagem econômica para cada tipo de perda é diferente.
As perdas reais, recaem sobre os custos de produção e sua redução faz com que empresas produzam um nível menor de água tratada suficiente para abastecer a mesma parcela de pessoas. Assim, como consequência é diminuída também a quantidade de insumos que são necessários para o tratamento da água, desde sua captação até o consumo.
Já as perdas aparentes, recaem sobre os custos de venda de água junto dos custos de coleta do esgoto e sua redução impacta diretamente na receita das concessionárias. Tendo como produto, a diminuição de fraudes na ligação, a falta de hidrômetros, os problemas de medição e os consumos não faturados geram um aumento do volume faturado.
Do ponto de vista econômico-financeiro e ambiental, diminuir as perdas de água é viável para as operadoras e permite que mais pessoas sejam atendidas, já que, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 31,1 milhões de brasileiros não têm acesso a água fornecida por meio da rede geral de abastecimento. Para os consumidores, além da possibilidade de expansão e melhorias nos serviços de saneamento, não é feito o repasse das perdas para as tarifas cobradas.
Ademais, mas algo pode ser feito para impedir as perdas de água? Então, resolver o problema todo está muito distante da realidade atual, mas é possível que com algumas ações amenize o impacto em sua conta e também no meio ambiente. A princípio, é preciso que cada pessoa fique atenta caso haja algum tipo de vazamento em sua residência. Pois, pequenos vazamentos podem evoluir, e afetar toda uma infraestrutura da tubulação e consequentemente da casa, e como produto tem transtornos maiores do que uma conta de luz cara. E também necessário que a sociedade denuncie vazamentos na cidade.
Enquanto empresa é necessário que as seguintes tarefas sejam feitas: gerenciamento de pressões a partir da execução de obras de setorização dos sistemas de distribuição de água; varreduras para localização de vazamentos não visíveis; reparo dos vazamentos visíveis e não visíveis em redes e ramais; renovação da infraestrutura com a substituição de redes e ramais antigos e deteriorados; execução de obras de adequação dos setores de abastecimento; manutenção substituição de hidrômetros; combate a irregularidades. Para que assim, amenize os efeitos dessa problemática
Porém, uma coisa a ser levada em consideração, é que um dos grandes problemas enfrentados no combate às perdas de água, é ser mais caro a manutenção da rede de abastecimento do que as perdas em si. Isso faz com que se crie um grande paradigma dentro das concessionárias, fazendo com que elas optem por desperdiçar esse recurso do que investir em tubulação.
Referências:
http://site.sabesp.com.br/site/interna/Default.aspx?secaoId=37 http://www.tratabrasil.org.br/blog/2017/11/16/perdas-de-agua-causa-econsequencias/ https://www.eosconsultores.com.br/perdas-de-agua-estudo-2019/ https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/brasil/2020/06/05/internabrasil,861515/brasil-tem-38-45-de-perda-de-agua-potavel-no-sistema-dedistribuicao.shtml https://blog.brkambiental.com.br/perdas-de-agua/ Https://www.eosconsultores.com.br/perdas-de-agua-no-sistema-deabastecimento/ Léo Heller Valter Lúcio de Pádua (Organizadores) Abastecimento de água para consumo humano 2a edição revista e atualizada VOLUME 1 BELO HORIZONTE | EDITORA UFMG | 2010 Portaria 2914/2011 Thornton, Julian, Sturn, Reinharda and Krunkel, George. 2008. Water loss control. 2. New York : McGraw-Hill, 2008. 978-0-07-149918-7 Dissertacao_PRP.pdf (usp.br) 21238018.pdf (uniceub.br)
Muito bom!
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