INTRODUÇÃO
É fato que, na atualidade, um dos maiores dilemas sociais é conciliar o desenvolvimento e a sustentabilidade. Dentre os principais aspectos que permeiam tal problemática, a geração exacerbada de resíduos sólidos (RS) ocasiona diversas complicações para manutenção do equilíbrio socioambiental. De acordo com o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2020, a produção de RS ultrapassou 79 milhões de toneladas em 2019, o que representa um aumento de 12,4 milhões de toneladas em relação ao ano de 2010. Tal dado reflete a urgência em se refrear essa questão.
Em primeira análise, é importante mencionar as ferramentas de regulação do tratamento de resíduos no Brasil, como a Lei 12.305 que trata da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e reúne, em síntese, um conjunto de ações, instrumentos e diretrizes que visa à gestão integrada e o gerenciamento ambientalmente adequado dos resíduos sólidos. Neste sentido, segundo o PNRS alguns conceitos importantes podem ser definidos:
Resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível;
Gestão integrada de resíduos sólidos: conjunto de ações voltadas para a busca de soluções para os resíduos sólidos, de forma a considerar as dimensões política, econômica, ambiental, cultural e social, com controle social e sob a premissa do desenvolvimento sustentável;
Gerenciamento de resíduos sólidos: conjunto de ações exercidas, direta ou indiretamente, nas etapas de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destinação final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, de acordo com plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos ou com plano de gerenciamento de resíduos sólidos, exigidos na forma desta Lei; (BRASIL, 2010).
Desse modo, fica claro que o gerenciamento de resíduos, bem como a gestão integrada, são imprescindíveis para o controle dos RS’s. Neste contexto, cabe mencionar algumas ferramentas que auxiliam no gerenciamento de resíduos, como a Logística Reversa e a Economia Circular. Estas atuam como meios de intervenção e redução tanto no núcleo desta problemática quanto nos seus desdobramentos.
2. LOGÍSTICA REVERSA
A Logística Reversa, é definida em conformidade com a Lei Federal 12.305/2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), então a mesma é caracterizada por “conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada” (Art. 3°, inc. XII). De modo, mais resumido, a logística reversa pode ser vista como uma responsabilidade das empresas que após as vendas dos seus produtos, tem que buscar meios de realizar uma destinação correta de suas embalagens, promovendo a reutilização ou reciclagem dos materiais. (PENSAMENTO VERDE, 2018).
Ademais, compete aos órgãos públicos e empresas privadas promoverem ações que visem a redução dos resíduos sólidos, diminuindo os impactos que são gerados ao meio ambiente Visto que, são produzidos muitos produtos, os quais rapidamente tornam-se resíduos, e os mesmos são colocados na natureza, acumulando cada vez mais e não recebendo o tratamento e a destinação final adequada como previstos. (CONTA AZUL BLOG, 2022) Logo, devido a isso surge o contexto da Logística Reversa, possuindo diferentes mecanismos para realizá-la, como: a criação de Pontos de Entrega Voluntária-PEV, Doações e a Compensação Ambiental.
É importante salientar que a implementação da PNRS ainda é muito recente no Brasil, logo a implementação da logística reversa ainda é pouco difundida. Porém, já existem algumas iniciativas no país com alguns produtos específicos, como: pneus, óleo lubrificante, embalagens de agrotóxicos, pilhas e baterias, sendo estas atividades já realizadas em cerca de dez anos. (CETESB,2022). Porém, ainda há muito o que melhorar e avançar no âmbito da logística reversa, pois no país ocorre um desperdício exacerbado de resíduos sólidos que possuem/possuíam elevado potencial para reutilização, reciclagem ou reaproveitamento, devido a isso muito deles são destinados para lixões, aterros sanitários, e outros locais. Abaixo segue o Ciclo da Logística Reversa de forma resumida.
Imagem 1 - Ciclo da logística reversa.
A Logística Reversa pode se apresentar em dois formatos, sendo estes: no pós-venda ou no pós-consumo. O pós-venda caracteriza quando o produto retorna à cadeia de distribuição antes de ter sido usado pelo consumidor ou em situações que houveram pouco uso, como em casos de defeitos ou por erro no processamento do pedido, por exemplo. Logo, a empresa precisa planejar o recebimento e encaminhamento desses produtos, buscando meios de controle do fluxo físico e das informações logísticas dentro de sua estratégia de organização. (MUNDO LOGÍSTICA, 2022).
Já o pós-consumo, que é até mesmo mais difundido no país entre as empresas, o mesmo é referente quando o produto foi adquirido, utilizado e descartado pelo consumidor, se tornando impróprio ou inutilizável. Logo, como acontece no pós-venda, cabe a empresa se preparar para recebimento destas matérias, dando o devido encaminhamento para o mesmo. Essa destinação pode ser a reutilização para retorno ao ciclo produtivo, a reciclagem ou o desmanche seguido pela destinação ambiental adequada. Uma observação importante, é que apenas se a reintrodução no mercado for inviável. (MUNDO LOGÍSTICA, 2022).
Imagem 2 - Logística reversa.
A muitas empresas que já implementam práticas da logística reversa e são referências o McDonald’s, por exemplo, devido ao grande consumo de óleo nas suas produções de alimentos, a rede alimentícia em parceria com uma empresa chamada Martin-Brower, desenvolveu-se uma técnica de logística reversa focada na sustentabilidade da reutilização deste óleo. Então, os caminhões que levam os alimentos para as filiais do McDonald’s recolhem o óleo que foi separado e os levam para uma análise do produto. Logo, esse é encaminhado para uma usina que realiza a transformação desse óleo em biocombustível, sendo este utilizado para abastecer os próprios caminhões da empresa. Logo, além de economia de combustível, a empresa ainda realiza uma destinação adequada para o óleo, realizando assim a logística reversa em seus processos.
Imagem 3 - Logística reversa McDonald 's.
Outra iniciativa de uma empresa que é muito interessante de logística reversa, é a da empresa do ramo de cosméticos a Natura. Uma das metas da empresa é destinar para a reciclagem 50% da quantidade de resíduos sólidos que são gerados pelas embalagens dos seus produtos. A empresa possui dois programas que visam essa temática, sendo estes:
O programa “Elos” é uma atitude em parceria com seus fornecedores de embalagens, que visa garantir a rastreabilidade, homologação e logística reversa nas cadeias de fornecimento dos materiais utilizados;
O outro programa apoiado pela empresa é o “Dê a Mão Para o Futuro”, que tem entre suas finalidades fortalecer e profissionalizar as cadeias de reciclagem no país. (INSTITUTO LOGÍSTICA REVERSA, 2022)
Imagem 4 - Logística reversa Natura.
Por fim, uma empresa protagonista na realização da logística reserva é a Coca-Cola Um dos objetivos da empresa é garantir o recolhimento de 100% das embalagens colocadas pela marca no mercado, até o ano de 2030. Segundo a empresa, cerca de 51% das suas embalagens já têm o recolhimento adequado atualmente. A empresa conseguiu atingir esses bons resultados devido às seguinte ações:
Campanha que promovem o uso efetivo das embalagens retornáveis;
A utilização da resina reciclada, como matéria prima para as novas garrafas confeccionadas pela empresa;
Por fim, a aliança foi criada com mais de 200 cooperativas de reciclagem espalhadas por todo o país.
Imagem 5 - Logística reversa Coca-Cola.
3. ECONOMIA CIRCULAR
Imagem 6 - Economia Circular
Sobre o surgimento do conceito muitos dizem que essa ideia tem uma origem muito antiga, mesmo nas escolas filosóficas. Outros autores defendem que ela teve seu apogeu nas nações industrializadas a partir da década de 1950.
Na sociedade atual, baseada na digitalização e na Internet das Coisas, a economia circular pode vir a ser consumida de um ponto de vista virtual, imaterial, transparente e que se nutre de feedbacks. (MANUSA.COM 2022) Como a metodologia 3 R’s que surgiu durante a Conferência da Terra, realizada no Rio de Janeiro, em 1992.
Com o passar dos anos, os recursos necessários para a sobrevivência na Terra vão acabando, fica mais caro de se produzir, o ambiente fica mais poluído, e a população não para de crescer. Esse conceito econômico envolve apostar em energia renovável e um modelo circular que trabalha para a construção de capital social natural e econômico. A Economia Circular veio com o intuito de acabar com o modelo tradicional de, extrair, usar e jogar fora. Propondo a ideia de usar, reciclar e introduzir esse material na produção de um novo produto; para que nenhum material seja encarado como lixo e sim como matéria prima para ser reutilizado. Um modelo de produção e de consumo que envolve a partilha, o aluguer, a reutilização, a reparação, a renovação e a reciclagem de materiais e produtos existentes, enquanto possível.(ATUALIDADE PARLAMENTO EUROPEU, 2022) Em 2019, a CNI divulgou uma pesquisa que ouviu 1.261 empresas industriais no país, constatando que 76% já realizam alguma atividade no âmbito da economia circular. Por outro lado, 70% delas nunca tinham ouvido falar nesse assunto antes do levantamento, praticando as iniciativas por causa das suas vantagens. A redução de custos foi a principal motivação citada pelos empresários (75,9%), seguida pela possibilidade de gerar empregos (60%), aumento da eficiência operacional (47,3%) e oportunidade de gerar novos negócios (22,6%).A maioria (72,4%) dos participantes acredita que as ações ajudam a fidelizar o cliente.
Desta forma, o ciclo de vida dos produtos é alargado, aumentando a produtividade e evitando o desperdício, além da diminuição dos gastos de produção e da poluição ao meio ambiente, evitando que resíduos vão para lixões e aterros sanitários.
São conhecidos 5 modelos de negócios que podem ser implementáveis:
Cadeia de valor circular: onde as empresas pensam em cada etapa da sua cadeia de valor e procuram trazer aspectos renováveis. Essa perspectiva sobre como o valor é criado leva a empresa a perceber cada atividade não apenas como um custo, mas como uma etapa em que se deve agregar valor ao produto ou serviço.
Plataforma compartilhada: compartilhamento de produtos e serviços de forma a otimizar o consumo, isso permitirá que as pessoas mantenham o estilo de vida mais sustentável sem precisar consumir de forma desenfreada. Ex: compartilhamento de carros.
Product-as-a-Service: passa a compartilhar o produto como serviço, ideia de aluguel de um produto.
Extensão do ciclo de vida dos produtos: transformando produtos com melhor qualidade, durante sua fase de uso admite várias abordagens, entre elas o planejamento antecipado para uma obsolescência tardia e a criação de possibilidades de obtenção de prazer no uso do produto e no consequente estabelecimento de ligações afetivas
Reuso e Reciclagem: transformação de um resíduo sólido que não seria aproveitado, a partir de mudanças em seu estado físico, físico-químico ou biológico de modo que ele se transforme em matéria-prima ou produto; a partir da coleta seletiva ou coleta mista é possível chegar a etapa da reciclagem.
Diante disso podem ser citados exemplos como no turismo que é um dos mercados mais importantes do mundo. No entanto, atualmente, o desenvolvimento dessa indústria traz consequências negativas para o meio ambiente – por causa, por exemplo, do alto consumo de recursos e da produção de resíduos. Portanto, a preocupação em implementar a economia circular é muito importante neste segmento. Algumas ações voltadas à Economia Circular de forma bem simples estão abaixo na imagem.
Imagem 7 - Exemplos da prática da economia circular
REFERÊNCIAS:
AMB SCIENCE. O que é gerenciamento de resíduos sólidos e qual a sua importância?. Disponível em: < https://ambscience.com/o-que-e-gerenciamento-de-residuos-solidos/#:~:text=O%20gerenciamento%20de%20res%C3%ADduos%20s%C3%B3lidos,final%20adequado%20aos%20res%C3%ADduos%20gerados.> . Acesso em: 28 jun. 2022
BRASIL. LEI Nº 12.305, DE 2 DE AGOSTO DE 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm> . Acesso em: 28 jun. 2022
CETESB. Logística Reversa. Disponível em: https://cetesb.sp.gov.br/logisticareversa/logistica-reversa/motivadores-e-objetivos-da-logistica-reversa/. Acesso em: 29 jun. 2022.
CONTA AZUL BLOG. O que é logística reversa: do conceito à prática de uma pequena empresa. Disponível em: https://blog.contaazul.com/o-que-e-logistica-reversa. Acesso em: 29 jun. 2022.
EESC JR.. 5 empresas que são exemplos de logística reversa. Disponível em: https://eescjr.com.br/blog/5-empresas-exemplos-de-logistica-reversa/. Acesso em: 29 jun. 2022.
INSTITUTO DE LOGÍSTICA REVERSA. 4 empresas com bons exemplos de logística reversa. Disponível em: https://ilogpr.com.br/4-exemplos-de-logistica-reversa/. Acesso em: 29 jun. 2022.
MANUSA. O que é economia circular, definição e história. Disponível em: https://www.manusa.com/pt-pt/atualidade/tematica/sustentabilidade/o-que-e-a-economia-circular-definicao-e-historia. Acesso 29 jun. 2022.
MUNDO LOGÍSTICA . O que é Logística Reversa?. Disponível em: https://revistamundologistica.com.br/glossario/o-que-e-logistica-reversa. Acesso em: 29 jun. 2022.
PENSAMENTO VERDE. O processo de Logística Reversa da Coca-Cola por trás do sucesso da marca. Disponível em: https://www.pensamentoverde.com.br/sustentabilidade/o-processo-de-logistica-reversa-da-coca-cola-por-tras-do-sucesso-da-marca/. Acesso em: 30 jun. 2022
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