INTRODUÇÃO
Diante da realidade brasileira, o abastecimento de água potável é um direito humano que deve alcançar a todos. Em especial a etapa de desinfecção que compõe o tratamento de água, pode ser realizada a partir de vários desinfetantes, entre eles a radiação UV. Assim, a etapa de desinfecção é fundamental para que se atinja a saúde pública de qualidade.
SODIS consiste numa alternativa de tratamento de água baseada na desinfecção solar. Os insumos para a construção da solução são basicamente um conjunto de garrafas plásticas e a luz solar. Como objetivo principal da técnica de tratamento de água está a inativação de organismos patogênicos por meio da desinfecção solar. Nesse sentido, a simplicidade e acessibilidade adequam a SODIS às comunidades rurais e ao âmbito doméstico, apresentando elevada eficiência, (PEREIRA, 2014).
De acordo com Pereira (2014), para a efetividade da desinfecção na água é necessário que a radiação UVA esteja presente no processo, pois ela atua como germicida e destrói o DNA patogênico. Além disso, a radiação infravermelha também deve participar para elevar a temperatura da água à faixa de 70 - 75ºC. Desse modo, a eficiência da desinfecção é medida pelo conjunto da radiação UVA e da produção de calor, removendo os vírus e bactérias, especialmente.
METODOLOGIA DE TRATAMENTO SODIS
A metodologia de tratamento SODIS, Solar Water Disinfection ou Desinfecção Solar da Água, fundamenta-se nos princípios da radiação solar como elemento essencial da desinfecção. A radiação UVA é responsável pela alteração genética dos microrganismos e a radiação infravermelha atua no aumento da temperatura para que os microrganismos estejam expostos fora da sua faixa ótima de sobrevivência, sendo sensíveis a temperaturas de 70 a 75ºC, (BERTHOLINI, BELLO; 2011).
O método de tratamento pela SODIS segue os passos: dispor-se de determinada quantidade de garrafas plásticas do tipo PET transparentes e higienizadas com capacidade máxima de até 2 L, preencher com água e fechar a tampa, deixar sob a luz solar de 6 horas a 2 dias (a depender da exposição e intensidade solar) em posição horizontal, armazenar e beber. Uma informação importante sobre a metodologia citada é que a turbidez da água a ser desinfetada deve ter turbidez menor que 30 uT, (BERTHOLINI, BELLO; 2011).
Imagem 1 - Metodologia de tratamento SODIS
Fonte: BERTHOLINI, BELLO; 2011
Segundo Bertholini e Bello (2011), dentre os microrganismos que são inativados pela SODIS estão vírus e bactérias como a Escherichia coli, Streptococcus faecalis, Salmonella typhi, rotavírus e oocistos de Cryptosporidium sp. Assim como estudos realizados em outros países, os resultados obtidos no Brasil mostram que a inativação dos coliformes totais acontece por completa, bem como de outros microrganismos, fazendo com que haja o decaimento dos índices de doenças causadas por transmissão via água. Logo, é uma forma segura de desinfetar a água para consumo humano, tendo sido aprovada pela OMS. No entanto, é imprescindível que seja realizada em garrafas PET convencionais de um litro e meio ou dois litros, a fim de garantir a eficiência da qualidade da água, (BOTTO, et al; 2006).
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA
Grande parte da eficiência do processo SODIS está relacionado com a quantidade de luz solar disponível. Como a radiação solar é distribuída de forma desigual no planeta, algumas localidades serão privilegiadas em relação a outras, dependendo também, da estação do ano e do tempo do dia. Desta forma, as regiões mais adequadas para o SODIS seriam os territórios situados nas regiões entre a latitude e 15°N e 35°N e 15°S e 35°S.
Além disso, a eficiência também será comprometida, de acordo com Sommer (1997), pelas partículas que ficam suspensas na água, diminuindo a penetração de radiação solar e protegendo os microrganismos de serem irradiados. Desta maneira, o método exige uma água mais clara, ou seja, com valores de turbidez abaixo de 30 NTU (Unidade de Turvação Nephelometrica), devendo passar por um pré-tratamento antes de ser exposta a esta técnica caso a turbidez supere o valor mencionado.
Pesquisas realizadas pela Aftin Acra na Universidade Americana de Beirute (posteriormente aprimorada pelo instituto EAWAG, na Suíça), verificam a eficiência deste método, associando também, à aceitação sociocultural e obtendo taxa de aprovação de 84% (EAWAG, 2002). A utilização deste método, favorece regiões menos favorecidas pela sua infraestrutura e recursos financeiros, tendo em vista que os raios solares são uma fonte natural de energia. Além disso, o método é validado com a utilização de garrafas PET, o qual é um material descartado comercialmente e abundante em países de baixa e média renda.
Para validar a eficiência do processo SODIS, são necessárias análises de indicadores, objetivando a comprovação indireta da remoção de microrganismos patogênicos. Dessa forma, são utilizados organismos indicadores da poluição fecal na água, como a Escherichia coli, assim como os chamados Coliformes Termotolerantes, já que estes são muito mais facilmente detectados do que determinadas espécies patogênicas.
IMPACTOS SOCIAIS A PARTIR DA IMPLANTAÇÃO DA TECNOLOGIA NAS COMUNIDADES MAIS POBRES
A ideia do tratamento de água com SODIS vem para baratear esse serviço, de forma que seja mais acessível à população mundial. Isso porque trata-se de uma tecnologia de baixo custo de implantação e possui técnicas simples de execução. Com isso, é possível afirmar que trata-se de uma técnica social.
Em locais de difícil acesso, comunidades enfrentam dificuldades acerca de saneamento básico. Então, o abastecimento de água tratada nessas comunidades é bastante precário ou inexistente. Assim, as famílias residentes ficam à mercê do uso de água de origem duvidosa. Logo, a tecnologia SODIS vem como solução para amenizar essa questão. Isso porque, apesar de ser uma forma de tratamento de água, ela não confere a potabilidade exigível para o consumo humano. Porém, ela pode ser usada para serviços domésticos, ações de higiene, agricultura, entre outras demandas. E caso precise de realizar o consumo é necessário o processo fervura e filtragem para que seja seguro.
Além disso, pode-se usar o programa “Crianças Saudáveis, Futuro Saudável” do Instituto Melhores Dias como exemplo de implantação de SODIS no tratamento de água em comunidades de baixa renda. Isso é feito a partir de oficinas em escolas e palestras para comunidades, leva a tecnologia SODIS, bem como informação sobre higiene e saúde para crianças e seus familiares. O programa tem uma estratégia integral e compreensiva, que une saúde e educação para conquistar mudanças positivas na qualidade de vida das comunidades.
Ademais, o programa introduz a tecnologia de purificação da água a baixo custo, para comunidades carentes sem acesso à infraestrutura básica e monitora o estado de saúde de crianças, além de levar informação para famílias iniciando um processo geracional de mudanças positivas. Os resultados alcançados por meio dessa iniciativa foram: melhor acesso à água potável para comunidades rurais, melhora nos níveis de infestação parasitária, com impacto direto na melhoria cognitiva e de saúde das crianças, com maior aprendizado e redução no absenteísmo escolar.
Nas Imagem 2 e Imagem 3 são apresentadas fotos de acompanhamento do projeto.
Imagem 2 - Comunidade praticando a técnica de SODIS.
Fonte: Transforma Fundação Banco do Brasil, 2015.
Imagem 3 - Capacitação comunitária acerca da implantação de SODIS no tratamento de água.
Fonte: Transforma Fundação Banco do Brasil, 2015.
DISCUSSÃO
Existem limitações acerca da implantação do projeto SODIS nas comunidades que são sobre as situações de água com turbidez mais elevada do que a quantidade que o método atende. Além disso, as condições e exigências da comunidade também devem ser consideradas relevantes para que intervenções de políticas públicas possam vir a se estabelecer. Por outro lado, capacitações e treinamentos deveriam acompanhar a instalação da metodologia, a fim de orientar e informar as pessoas que executarão e farão uso da água tratada pelo SODIS.
REFERÊNCIAS
BERTHOLINI, Thargus Martins; BELLO, Adriana Xavier da Silva. DESINFECÇÃO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO ATRAVÉS DO MÉTODO SÓDIS: ESTUDO DE CASO EM LOCALIDADE RURAL DO MUNICÍPIO DE CUIABÁ - MT. In: II CONGRESSO BRASILEIRO DE GESTÃO AMBIENTAL. Cuiabá, 2011. p. 1-5.
BOTTO, Márcio Pessoa et al. ESTUDO DA VIABILIDADE TÉCNICA E SOCIAL DE TECNOLOGIAS ALTERNATIVAS DE SANEAMENTO EM COMUNIDADES NO ESTADO DO CEARÁ. In: 23° CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL. Fortaleza, 2006. p. 1-9.
EAWAG; SANDEC. Desinfecção Solar da Água: Guia de Aplicação SODIS. Switzerland: SKAT, 2002.
FUNDAÇÃO TRANSFORMA BANCO DO BRASIL. Sodis – Desinfecção Solar Da Água. Fundação Transforma Banco do Brasil, 2015. Disponível em: https://transforma.fbb.org.br/tecnologia-social/sodis-desinfeccao-solar-da-agua. Acesso em: 13 ago. 2021.
LOBO, Marco Aurélio Arbage et al. Avaliação econômica de tecnologias sociais aplicadas à promoção de saúde: abastecimento de água por sistema sodis em comunidades ribeirinhas da amazônia. Ciência & Saúde Coletiva, [S.L.], v. 18, n. 7, p. 2119-2127, jul. 2013. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s1413-81232013000700027. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1413-81232013000700027. Acesso em: 13 ago. 2021.
PEREIRA, Lucio Alberto et al. AVALIAÇÃO DE TRATAMENTO SIMPLIFICADO DA ÁGUA DE CISTERNA: DESINFECÇÃO SOLAR (SODIS) PARA CONSUMO HUMANO. In: 9° SIMPÓSIO BRASILEIRO DE CAPTAÇÃO E MANEJO DE ÁGUA DE CHUVA, 2014, Petrolina. Petrolina, 2014. p. 1-6.
SOMMER, B.; SOLARTE, Y.; MARIÑO, A.; SALAS, M. L.. SODIS: An Emerging Water Treatment Process. Journal of Water.
Muito bom!
Tema muito bacana. Foi um prazer estudar e escrever o artigo!