Você já parou para pensar no quanto de plásticos consumimos e que grande parte não possui uma adequada destinação final? Estamos cada vez mais dependentes deste polímero. Estes materiais, muitas vezes com elevado potencial tóxico e formados por detritos de fragmentação de plásticos maiores (microplásticos), vão parar nos ambientes aquáticos afetando a fauna bem como a saúde humana, em se tratando de águas de abastecimento.
A produção de plástico
Uma produção exponencial de produtos e impactos
Estamos vivendo a “Era dos Plásticos”. A produção de plástico (bruto) passou de 2 para 358 milhões de toneladas, entre os anos 1950 e 2018. A expectativa prevista para o ano de 2030 supera 550 milhões de toneladas, conforme a Figura 1. (TEOTÔNIO, 2020; FAPESP, 2019).
Figura 1. Produção global de plásticos (em milhões de toneladas) entre os anos de 1950 a 2030, com projeção para 2050.
Fonte: modificado de FAPESP (2019)
O Gráfico 1 mostra o percentual de consumo dos principais tipos de plásticos. O politereftalato de etileno (PET) constitui principalmente frascos e garrafas para uso alimentar, se caracteriza por ser reciclável. O policloreto de vinila (PVC) tem sido cada vez mais reutilizável, entretanto, uma desvantagem é a substância dioxina, acumulativa e de potencial cancerígeno. Todos os tipos, estes citados ou outros, caracterizam um impacto ambiental, sobretudo quando descartado de forma inadequada (TEOTÔNIO, 2020).
Gráfico 1. Percentual de consumo (em %) dos principais tipos de plásticos
Fonte: modificado de Olivatto (2018)
Com o crescente aumento populacional e uma sociedade cada vez mais industrializada e agitada, a demanda pelos materiais com boa resistência e praticidade aumentaram de forma significativa. De acordo com Piatti e Rodrigues (2005), se por um lado estas características conferidas ao plástico são vantajosas, por outro lado, significam um grande problema ambiental.
Impacto Ambiental dos Microplásticos
O problema da destinação inadequada de resíduos
Dentre os diversos impactos negativos ambientais, destacam-se a disposição inadequada de resíduos sólidos, sobretudo o plástico. Devido sua baixa degradabilidade, os plásticos permanecem na natureza por um longo período (SILVA et. al, 2013). Uma vez descartados inadequadamente, os resíduos plásticos, há uma enorme probabilidade destes materiais chegarem ao cursos d'água e oceanos (CASAGRANDE, 2018)
Uma estimativa da ONU apresentou que os resíduos plásticos são responsáveis por 60 a 80% do lixo que chega aos oceanos. Com a fragmentação do plástico, há uma dificuldade na remoção destes materiais e facilidade de ingestão pelos animais (NICOLODI, et. al, 2019)
Figura 2. Deposição de lixo nos oceanos. (Fonte: Caroline Power/BBC Brasil)
Microplásticos e Saúde Humana
Já é comprovado o consumo humano destes micropoluentes
São muitos estudos em animais aquáticos e outros como camundongos e moluscos, por exemplo, que demonstraram sua acumulação nos organismos impactos de resinas de plástico no metabolismo (TEOTÔNIO, 2020).
Apesar dos conhecimentos limitados, é sabido que a ingestão de microplásticos podem causar impactos à saúde. Os efeitos adversos estão relacionados principalmente aos aditivos utilizados durante a produção, como substâncias químicas conhecidas como desreguladores endócrinos que poderiam levar a doenças endocrinológicas e cânceres. (TEOTÔNIO, 2020).
Microplásticos nas Águas de Abastecimento
As novas tecnologias para a remoção destes micropoluentes
Entre muitos estudos de diversos lugares, uma tese de doutorado da UFRGS encontrou microplásticos na água do principal manancial de abastecimento da cidade de Porto Alegre-RS. A autora pesquisadora afirma que estes materiais são onipresentes, possuindo uma dinâmica no meio ambiente muito dinâmica (TRIVESOL, 2020).
Caso não saiba, o sistema convencional de tratamento de água não consegue reter as partículas de microplásticos. (FERRARI, 2019). Uma professora da UFLA explicou que os microplásticos são considerados contaminantes emergentes, ou seja, ainda não há padrões legais para o consumo. Isto significa que não há muitas normas legais que determinam o quanto pode ter na água que bebemos, ou no quanto é lançado no curso após um tratamento de esgoto.
Pensando exclusivamente em uma ETA - Estação de Tratamento de Água, concluímos que apesar de todas as etapas referentes a esse tratamento, um “avanço” se mostra necessário; não só pela liberação desses microplásticos para o consumo humano, mas pela presença em diferentes âmbitos do meio social e pensando a longo prazo, pelos impactos à saúde.
Há possíveis soluções que possam preencher esse avanço. Gabriel Fernandes, um estudante de 16 anos do Colégio São José, em Itajaí-SC, com a ajuda de professores, desenvolveu um sistema de filtragem que se mostrou 100% eficiente na remoção desses microplásticos e que funciona da seguinte forma: “Os microplásticos são menos densos que a água e por isso o mecanismo de filtração filtra apenas a parte superficial da lâmina d’água. O filtro utiliza um skimmer que, através de canos, direciona a água para um cilindro plástico com fundo de malha de nylon de abertura de 300µm. Este copo coletor é o elemento filtrante, onde a água passa e os microplásticos ficam retidos na malha.”, relatou Gabriel.
Figura 3. Sistema de filtragem desenvolvido pelo estudante em simulação em um aquário.
Segundo Gabriel, o sistema é de fácil instalação, visto que não é necessário grandes reformas estruturais na ETA e principalmente pelo seu baixo custo, ficando em torno de R$450.
Gouveia (2018) cita que alguns estudos, por exemplo, observaram que filtrações em tratamento terciário conseguiam reter uma quantidade significativa de microplásticos sobretudo em filtros de membrana, entretanto este tipo de tratamento exige um elevado custo de investimento e manutenção. O autor afirma que soluções implementadas para este objetivo se tornam improváveis quando não há obrigação legal na remoção de microplásticos.
Responsabilidades:
Os compromissos de todos na minimização deste impacto ambiental
É de responsabilidade das empresas o correto tratamento e destinação dos seus resíduos, bem como pelo resíduo produzido pelos clientes. Muitas delas fazem o estudo da logística reversa, um instrumento garantido pela PNRS. Somente em casos onde não é possível a reciclagem, reaproveitamento, o resíduo é destinado ao descarte. Entretanto, não é somente competência das empresas produtoras de bens plásticos, a gestão destes resíduos e nem somente o Estado. A mesma PNRS instituiu a responsabilidade compartilhada de toda a sociedade (NICOLODI, 2019).
Têm crescido cada vez mais políticas e projetos visando a minimização do consumo de plástico. Campanhas educacionais se mostram eficientes na formação de atitudes sustentáveis. Cabe a nós, como sociedade civil, o consumo sustentável. Desenvolver a consciência acerca dos impactos negativos do plástico, minimizando o máximo possível do consumo, estimulam e facilitam órgãos públicos e privados desenvolverem métodos que possam contribuir de certa forma para a preservação ambiental e a saúde humana.
Não se pode esquecer do papel da ciência no desenvolvimento de tecnologias de remoção de microplásticos nas águas, sobretudo nas destinadas ao abastecimento humano. Embora as pesquisas estejam se iniciando no Brasil, é um tema que tem sido de crescente importância.
REFERÊNCIAS:
BBC Brasil. Lioman Lima. O gigantesco 'mar de lixo' no Caribe com plástico, animais mortos e até corpos, 2017. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/internacional-41853621>
CASAGRANDE, Naiara Machado. Inclusão dos impactos dos resíduos plásticos no ambiente marinho em avaliação de ciclo de vida. Dissertação [Mestrado] - Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2018.
CICLO VIVO. Natan Olsen. Estudante cria sistema que filtra microplásticos da água, 2021. Disponível em: <https://ciclovivo.com.br/inovacao/tecnologia/estudante-cria-sistema-que-filtra-microplasticos-da-agua/>
FERRARI, Matheus Feza. Avaliação da presença de microplásticos em esgoto sanitário do município de Campo Mourão – PR. Dissertação [Graduação] - Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Campo Mourão, 2019.
GOUVEIA, Ricardo Jorge dos Santos. Eficiência de remoção de microplásticos em quatro ETAR portuguesas. Dissertação [Mestrado] - Universidade Nova de Lisboa. Lisboa, 2018.
NICOLODI, J. L.; LIMA, R. P. et. al. Um mar de lixo. Ministério do Meio Ambiente e FURG. Cartilha, 2019.
OLIVATTO, G. P.; CARREIRA, R. TORNISIELO, V. L.; MONTAGNER, C. C. Microplásticos: Contaminantes de Preocupação Global no Antropoceno. Revista Virtual Química, 2018.
PIATTI, Tania. RODRIGUES. Reinaldo. Plásticos: características, usos, produção e impactos ambientais. Conversando sobre ciências em Alagoas. Maceió. EDUFAL, 2005. 51 f.
SILVA, C. O.; SANTOS, G. B. SILVA, L.N. A degradação ambiental causada pelo descarte inadequado das embalagens plásticas: estudo de caso. Revista Eletrônica em Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental - REGET.v. 13 n. 13 Ago. 2013, p. 2683- 2689.
TEOTÔNIO, M. H. R. Presença de microplásticos em água de torneira no plano piloto de uma região administrativa de Brasília. Dissertação [Mestrado] - Universidade de Brasília. Brasília, 2020.
TRIVESOL, Nicole. Microplásticos assumem “identidade divina” e estão onipresentes no meio ambiente. UFRGS Ciência. 2020.
Tema de extrema importância!!!